Algumas pessoas possuem uma tendência a achar que tudo, ou quase tudo que é novo é ruim, muitas vezes, sem antes refletirem se essa “coisa nova” não pode ser a solução para um problema específico. Há alguns anos, quando se projetou a construção do calçadão no centro da cidade, alguns acharam que seria um “caos”. O que acabaria com o estacionamento na “porta das lojas”,o que afugentaria a freguesia, provocando demissões, uma vez que com o declínio nas vendas os proprietários não teriam outra alternativa senão diminuir os gastos antes da eminente “quebra total”. Poderia ainda citar outros exemplos, mas a questão do calçadão da Rua Andrade Neves guarda especial relação com o assunto deste artigo já que novamente é esta mesma rua causa de polêmica pela eminência da construção da ciclofaixa. Pois bem, a atual Administração Municipal vem abordando o tema de mobilidade urbana com a seriedade e dedicação que o assunto merece. Percebe-se assim a clara intenção de uma mudança de paradigma na política de trânsito que deva inserir os ciclistas neste universo, identificando dificuldades e apontando soluções, mesmo sabendo da falta de verba. Todas estas dificuldades aguçaram a criatividade de Secretários, engenheiros e técnicos e o que se vê são projetos, medidas e intervenções sistemáticas que começam a dar frutos. Refiro-me aqui ao mais valioso deles, a preservação de vidas. Sim, não estou escrevendo por algum capricho ou preocupado com que alguma “vantagem particular” seja prejudicada. Há na cidade mais de 20 mil ciclistas, trabalhadores, pais de família que se arriscam a cada pedalada. O projeto da construção de uma ciclofaixa na Rua Andrade Neves parece não ter sido bem entendido por alguns. Os carros não serão estacionados no “meio da rua” entre o meio-fio e a ciclofaixa, como alguns fazem crer. Pelo plano original, amplamente explicado, pelos responsáveis, e divulgado pelos meios de comunicação, o estacionamento, do lado direito, sentido centro-bairro, será deslocado a menos de dois metros. Uma distância relativamente pequena para a largura da rua, onde não há fluxo de ônibus de linha e tem sentido único. Tenho a certeza de que os técnicos e engenheiros da SEURB têm modelos e exemplos de outras localidades onde tenha sido implantado um projeto semelhante. E mesmo que não tenham buscado inspiração em outros modelos, europeus ou americanos não são merecedores de menor crédito. Em se concretizando a construção da mesma, o fluxo de bicicletas que circulam pela Rua General Osório diminuirá consideravelmente, os ciclistas, tendo a alternativa de circulação pela Rua Andrade Neves não terão porque ficar espremidos na Rua Osório com seu tráfego pesado, tanto pela via da direita como pela da esquerda. Em tempos de grande preocupação com o meio ambiente, iniciativas ao uso de bicicletas como meio de transporte nos parece mais adequado, sendo evidente incentivo à implantação de melhores condições aos ciclistas. Outra conseqüência seria a diminuição da velocidade dos carros que trafegam pela Rua Andrade Neves, inibindo, desta maneira, rachas e demonstração de potência de motores, o que põe em risco a vida não somente de quem está pilotando os “bólidos”, mas também de transeuntes. Toda e qualquer discussão e debate é válida e necessária, porém, não se devem medir esforços, principalmente se é para evitar acidentes. Mesmo que em determinado momento haverão de se tomar decisões que podem não agradar alguns, mas que com certeza melhorarão o deslocamento de muitos. É hora de deixarmos de lado discussões inúteis que beiram a intolerância. Sou ciclista de “carteirinha”, respeito as regras de trânsito, utilizo equipamento de proteção e como eu já existem muitos que com educação se tornarão a quase totalidade, uma vez que há condutores e condutores e com as bicicletas não é diferente. A rua é de todos e devemos compartilhar-la, cada um ciente de seus direitos e deveres como cidadão. Espero que o bom senso prevaleça e consequentemente, teremos uma cidade mais humana que não marginaliza. Agrega.
Hector Horacio Severi Cardoso (Movimento dos Usuários de bicicleta de Pelotas) – www.pinhalivre.org