Ainda sobre as ciclofaixas...
Este é um país democrático e todas as opiniões devem ser respeitadas, porém, corremos o risco, muitas vezes, de que estas mesmas opiniões, por vezes pautadas pelo ímpeto da emoção provoquem ou gerem desconfortos, principalmente em quem tem pouca “voz”. Neste caso os ciclistas. Refiro-me mais especificamente à “insistência caprichosa” na argumentação de que a, não tão recente. construção da ciclovia na rua Andrade Neves é “inútil e atrapalha”, não obstante todo o debate que se fez prévio a sua construção. Muitas reuniões públicas foram realizadas e não contaram com a presença dos que agora reclamam de que esta ciclovia está sendo subutilizada. Mas, pouco usada por quem? Que parâmetros são utilizados além dos próprios dedos das mãos em alguns momentos do dia para constatar que dita ciclovia não deveria existir? E mais. Ainda que considerássemos que existem poucos ciclistas ou mesmo que poucos ciclistas utilizam a ciclofaixa, o direito destes deveria ser respeitado, como são respeitados os direitos dos moradores de uma rua sem saída, por exemplo, em que as obras de infra-estrutura atendem às necessidades do reduzido números de moradores. Teríamos que terminar com pistas de caminhada, concentradas na zona norte e que são utilizadas por uma pequena parcela da população. O que dizer então dos estacionamentos privativos ou de carga e descarga que muitas vezes beneficiam um único estabelecimento comercial. Fato é que todos estes, moradores de pequenas ruas, praticantes de exercícios físicos ou mesmos alguns estabelecimentos que solicitaram ao poder público um lugar onde possam descarregar mercadorias para suas empresas, como também os ciclistas que se “contam nos dedos”, tem direitos que devem ser respeitados como o de todos os demais, em maior número ou não. Que lógica permeia a mente de donos de estabelecimentos comerciais que acham que perderão clientes porque só há vagas de um lado da rua para estacionar seus carros? Por certo que seus negócios atraem clientes por diversos motivos, como o bom atendimento, a qualidade de seus produtos, preço, variedade, dentre tantos outros valores que sobrepujam a simples dificuldade de estacionamento. Poder-se–ia agregar aos atrativos antes citados o de serem tais estabelecimentos dotados de consciência ambiental e, em vez que vislumbrarem um problema na ciclofaixa, poderiam enxergar o início de uma solução para um problema muito maior que é o aquecimento global, ensejado em grande parte pelos veículos automotores que circulam diariamente e cujo número só faz aumentar. Se a questão do estacionamento fosse fundamental para o sucesso de qualquer empreendimento, as lojas do calçadão já teriam falido há muito tempo. Devemos festejar a ciclovia, lamentando que não existam muitos quilômetros mais ou que ainda não tenham sido tomadas as medidas educativas necessárias para uma utilização plena delas. Precisamos urgentemente de uma quebra de paradigmas, englobando no espaço viário todos os que dele se utilizam, inclusive os ciclistas. Assim, poderemos finalmente dizer que estamos no caminho do progresso.
Horacio Severi
Professor (horacioseveri@yahoo.com.br)